O Garimpar-te se sustenta sobre dois pilares: da afetividade e do âmbito político do ato de se vestir e de produzir roupas. Nossa busca tem um ponto de partida subjetivo: a vivência da artista visual Vitória Fernandes, que nascida em berço de artistas lageanos, desenvolveu sua sensibilidade artística e sua produção aproximando-se dos saberes e fazeres das mulheres da sua família, sua mãe Maria Fernandes e sua avó, Dona Zeli, as quais trabalhavam com costura e personalização de peças com materiais alternativos.

A partir dessa vivência particular, a artista cria seu selo Flores de MonaM – em que personaliza e confecciona peças – integrando o Kabuki Ateliê, um ateliê criativo voltado para o segmento da moda urbana na cidade de Lages. No entanto, na observação do caráter afetivo da profissão, está latente a questão política da qual é imbuída o trabalho independente e o ato de se expressar por meio da vestimenta. A confecção artesanal de roupas, bem como pequenos reparos e reformas, era um trabalho atribuído – de maneira geral – às mulheres, que complementavam a renda da casa ou provinham recurso fundamental para manutenção de seus núcleos familiares. 

Observando essa realidade, percebemos o quão amplo e diversificado é o setor da moda e queríamos nos localizar nesse prisma que vai desde a produção em escala industrial à artesania. Dessa inquietação que nasceu o embrião do projeto:  como se dão se as relações de trabalho dos empreendedores criativos do setor da moda na cidade de Lages? Como se transformou essa profissão tão tradicional, geralmente domiciliar, de confecção e reparos de roupas? Em que ponto essas realidades convergem e em que ponto se distanciam? 

 E o melhor jeito de responder essas perguntas é garimpando. 

Fizemos um circuito com doze paradas, em que registramos trabalhadores em seus espaços de produção e pudemos nos inserir nessa história que está em efervescente movimento. Além disso, garimpamos uma peça de cada personagem da nossa narrativa. Como resultado dessa aventura nasce a exposição “Garimpar-te: narrativa dos trabalhadores da Moda em Lages/SC”, que é apoiada pelo edital Elisabete Anderle de Estímulo à Cultura – Edição 2020.